terça-feira, 12 de janeiro de 2010

TICCIH-Brasil (Apresentação)

Comitê Brasileiro para a Preservação do Patrimônio Industrial

TICCIH-Brasil

Apresentação

Os estudos sobre patrimônio industrial alcançaram, no mundo contemporâneo, uma relevância e uma importância histórica e social inquestionável, tendo sido até mesmo considerados como fundadores de uma “nova ciência”.

A análise dos vestígios materiais da Revolução Industrial – fábricas, manufaturas, habitações operárias, canais fluviais, pontes, diques, aquedutos, estradas e estações ferroviárias, viadutos, bem como toda a espécie de máquinas e ferramentas - passou a fazer parte da constituição da memória e da identidade das populações urbanas.

Na Inglaterra, desde a década de 1950 (ou seja, paradoxalmente um dos picos do período de desindustrialização vivido por aquele país) os bens industriais foram listados e reconhecidos pelo Conselho Nacional de Arqueologia. Em 1963 surgia o primeiro periódico especializado na área, o Journal of Industrial Archaeology, mais tarde apenas Industrial Archaeology. Neste mesmo país vários estudiosos, acadêmicos ou não (como Charles Hadfield, Kenneth Hudson, Arthur Raistrick e George Watkins), deram início a uma série de levantamentos e análises que, de certo modo, sensibilizaram a opinião pública para a importância dos vestígios industriais.

Em 1978, por ocasião do IIIº Congresso Internacional para a Conservação dos Monumentos Industriais – o primeiro havia sido em 1973 em Ironbridge – em Estocolmo, Suécia, foi criado o The International Comittee for the Conservation of Industrial Heritage (TICCIH), organismo cuja finalidade é promover a cooperação internacional no campo da preservação, conservação, localização, pesquisa, documentação e valorização do patrimônio industrial.

No caso do Brasil, bens relacionados às atividades da indústria humana (engenhos, mineração, máquinas e fábricas) bem como os ofícios e “modos de fazer” em si relacionados a estes bens físicos tem suscitado muitas pesquisas e esforços para tombamento e preservação. Estudos de caso, em sua maioria, estabeleceram princípios para o estudo do tema (como o inaugural texto de Warren Dean, já em 1976, sobre a fábrica São Luiz de Itu); por sua vez, a sociedade organizada manifestou-se, por vezes pela preservação de edifícios fabris ou ferroviários, demandando o tombamento municipal ou mesmo estadual de edifícios específicos; ou ainda, associações determinaram o estabelecimento de normas e princípios técnicos para a preservação destes bens, como no Manifesto do GEHT (Grupo de Estudos da História da Técnica), que firmou em 1998 um compromisso com recomendações para a preservação deste patrimônio em específico (vide em anexo).

Não obstante, no Brasil não há ainda um campo teórico, metodológico e prático formado para o conhecimento sobre o patrimônio industrial. Muitos exemplares de nosso rico passado são abandonados, a cada dia, à sua própria destruição, situação essa vivida por galpões industriais, antigas fábricas e seus maquinários, linhas de trem e antigas estações. Afinal, os vestígios da industrialização, pela sua própria inserção na trama urbana, são rapidamente destruídos na ampliação das atividades econômicas ou fabris. O tombamento dos remanescentes da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema (Iperó, SP) pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1964, é quase excepcional no quadro do trato desse patrimônio na trajetória da preservação em nosso país.

Em específico, no estado de São Paulo, tanto na capital como nas cidades do interior, a muitas vezes galopante substituição das atividades econômicas pelas do setor de serviços ou pelo trabalho informal provocam a descaracterização permanente de importantes edifícios ou sua simples demolição.

Logo, neste momento, torna-se fundamental a revalorização do patrimônio industrial nacional, o que implica não somente a proteção a áreas urbanas centrais e a recuperação de construções degradadas, como trazer maquinarias fora de uso a seu funcionamento e, simultaneamente, entender seu funcionamento para, por meio deste esforço, revelar a vida e o trabalho das gerações passadas.

Por essa razão, nossa proposta para o I Encontro em Patrimônio Industrial é a de estabelecer um diálogo entre profissionais, docentes e estudantes que atuam nessa área, criando a possibilidade de uma rica troca de experiências e informações em um encontro entre os dias 17 e 20 de novembro de 2004, sediado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Profa. Dra. Cristina Meneguello

Profa. Dra. Silvana Rubino

Depto de História - IFCH - Unicamp

TEXTO ORIGINAL: WEB do I Encontro em Patrimônio Industrial

http://patrimonioindustrial.vilabol.uol.com.br/apresentacao.html

Um comentário:

  1. Bom dia Professora Cristina, este tema além de fascinante me interessa muito, em especial no que diz respeito às minas em geral. Espero em breve poder ser útil ao nosso país, onde muito já se perdeu da história da mineração desde a colônia até o século XX, das grandes transformações tecnológicas e dos modelos exploratórios. Um potencial a ser explorado em benefício da coletividade, porém ainda com pouca percepção desse potencial no Brasil. At. José Eduardo

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